sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Deus não é culpado.

Numa dessas discussões, perguntaram se eu concordava com a afirmação:
"Deus prevê que determinada coisa vai acontecer e ela tem que acontecer, mas nem por isso Ele é culpado."
Acredito que:
Deus não é culpado porque até o conceito de culpa é questionável: está associada a coisas ruins.
Veja só: procuramos culpados por erros, por crimes, por acidentes. Mas para as coisas boas não há "culpados". Existem os responsáveis pelas coisas boas. O responsável pela festa, pelo livro, pelo evento. Vê a diferença? Deus é a bondade infinita. Não pode ser culpado. Ele é sim, responsável por tudo.


Um assassinato, por exemplo. Deus é responsável porque permitiu que o ser humano pudesse se tornar tão ruim a ponto de tirar a vida de um semelhante.
Se o assassinato não fosse necessário, Deus só teria permitido a constituição humana de tal forma que um homem não conseguisse matar outro ou, se o fizesse, morresse imediatamente. Como se sua própria vida fosse tirada "compensando" a vida que ele extinguiu. Assim, estaria garantido que aquela pessoa não mataria mais ninguém.
Como o assassinato é algo factível, acontece todos os dias, Deus permite. Se Deus permite, é necessário. Não me pergunte como, mas é.
E afirmo isto porque Deus não erra. Ele não permitiria a existência de algo que não tivesse uma razão, um propósito. Se você disser que o ser humano pode se tornar mau e que Deus não sabia que seria assim, dá a impressão de que Ele errou ao permitir nossa existência. Ou que Ele não é onisciente.
Daí, até as coisas que consideramos ruins, não são ruins para Deus. São necessárias. Se não fossem necessárias, Ele não permitiria que acontecessem.
Exemplo bobo: Cobra não voa, porque não é necessário. Se fosse necessário, a evolução (que só ocorre por causa das possibilidades permitidas por Deus) já teria se encarregado de dar asas às cobras.

Quanto ao "Deus prevê que determinada coisa vai acontecer", eu discordo por causa de outro conceito.
Não é bem uma previsão. É apenas conhecimento. Previsão é o que nós fazemos com o tempo. Pelas condições e estudos, afirmamos que vai chover com uma probabilidade X. Como é uma possibilidade, podemos acertar ou não. Quando erramos, chamamos de erro, de falha. Quando acertamos, temos uma previsão. Porque o futuro não é de nosso conhecimento.
Com Deus é diferente. Não existe passado e futuro para Deus. Não existe tempo. Tudo é de conhecimento instantâneo. Então Ele não prevê, apenas sabe.


Pense comigo: Olhando pra sua tela do computador agora, você pode ver os cantos da tela, o programa que está usando, se tem muito ou pouco brilho, se está riscada ou trincada, limpa ou suja.
Agora imagine sua vida neste planeta, do nascimento à morte, disposta nessa tela. E Deus no seu lugar, olhando pra tela. Ele vê onde começou e como vai acabar. Tim-tim por tim-tim. Porque foi Ele que escreveu. Ele criou. Por isso Ele sabe.
Escreva num papel uma frase. Coloque o papel na sua frente e fique lendo. Tem como a frase mudar? Se você guardar este papel no bolso, você lembra qual é a frase. SABE o que escreveu. Se eu te perguntar um minuto depois o que tem escrito no papel que está no seu bolso, você vai dizer e vai acertar. Mas não foi previsão. Você JÁ SABIA.
Se a frase for “Eu amo minha família”, você me fala. Quando tira o papel do bolso e olha, vê escrito: “Eu uso computador.” O que é que eu interpreto? Que você errou! Mas você é humano, pode errar. E Deus não erra.
Quando eu nasci, Deus sabia que eu nasceria e como morreria. Sendo assim, tudo o que acontece comigo, está dentro dos planos Dele. Não muda. Ou seja, tudo o que eu acho ruim é, na verdade, necessário. Não sei ainda por quê. Mas é.

6 comentários:

  1. Cuidado que dessa forma você acaba provando a inexistência de Deus. Pois pouco importa se ele existe ou não dado todos esses enunciados, visto que ele seria inalcançável. Como seria a interação homem e Deus, passaria pelo livre arbítrio? Com ele faço algo que Deus não planejou? Muito legal o post.

    ResponderExcluir
  2. Esse é meu medo, man! rs
    O livre arbítrio só é escolha para nós. Para Ele, é determinismo (vide post anterior).Por isso esta interação fica seriamente comprometida.
    Obrigado pela contribuição e até breve.

    ResponderExcluir
  3. Talvez Deus não seja inexistente, talvez o homem é que não tenha capacidade para conhecê-lo. Então, ao invés de ateu, você pode se tornar agnóstico! Ahuahuah!
    Lendo seu texto, pensei numa coisa que discuti outro dia com um amigo: sobre bem e mal, culpa ou responsabilidade, até onde Deus permite as coisas... enfim... talvez os culpados ou responsáveis [porque nesse caso faz o mesmo sentido] sejamos nós mesmos... que escolhemos abandonar nossa condição almática, de anjos... e encarnar num corpo belo, de formas desejáveis, como fez Eva, como ela depois convenceu Adão a fazê-lo... E nesse corpo, viver tudo que é carnal, abrindo mão de coisas que podíamos antes [como voar, por exemplo], e assumindo consequências de coisas que só a mortalidade, a carne e o corpo nos permitem sentir: o prazer em tudo que [talvez] o sagrado considere fúltil...
    Talvez nem mesmo Deus se conforme de tantos de nós [anjos] escolhermos tomar sempre essa forma humana, e talvez, Ele mesmo se arrependa dessa tal criação... vai saber!
    Enfim, é um plano misterioso demais para se afirmar QUALQUER coisa...

    Gosto de suas reflexões, amigo...
    Elas instigam!
    Abraço!

    ResponderExcluir
  4. Obrigado, amiga! Apareça sempre!

    Nós somos culpados e responsáveis, sim. Porque somos nós que fazemos as coisas, boas ou más. Mas Deus nos fez com a capacidade de fazer coisas ruins e permite que façamos coisas ruins. Daí a responsabilidade primária é Dele.
    Quanto a Deus se arrepender, discordo. Defendo que Ele não erra, não se surpreende e não se arrepende.
    Mas, como você escreveu, mistério...

    ResponderExcluir
  5. A única maneira de aceitar um Deus que aceita todas as coisas ruins é a consciência, com ela haverá um entendimento que não existem coisas boas ou ruins, certas ou erradas. Os religiosos acham que Deus não faz coisas "ruins" e pregam um Deus bonzinho e jogam a culpa nos homens, mas como Gesner falou a responsabilidade seria primariamente dele, isto é, o argumento é insustentável já que toda a criação é atribuída a ele. Imaginar um Deus maldoso ninguém quer pois ele é o centro do refúgio do ser humano e não aumentaria sua segurança. Deus é o todo absoluto e a vontade de cada um também é a dele, assim ele está presente no mais horroso dos homicídios ou qualquer que seja o mal e da mesma forma na coisa mais bela do mundo. Tentem partir do meu pressuposto e percebam onde há mais coerência.

    ResponderExcluir
  6. Obrigado pela contribuição, amigo. Fico feliz por ter entendido a abordagem. Abraço e retorne outras vezes.

    ResponderExcluir