“(...) Homens, vocês não sentem vergonha por ser impossível
confiar em vocês com uma criança?
A quem tem filhos: vocês são muito otimistas em relação à humanidade ou vocês não pensam nessas coisas?”
A quem tem filhos: vocês são muito otimistas em relação à humanidade ou vocês não pensam nessas coisas?”
Bom, como sinalizei, é um assunto denso. E isso na comunicação
escrita nem sempre é fácil de abordar. Mas tentei fazer uma síntese do que
penso.
A primeira coisa: em se tratando de um homem desconhecido
(já que se reportou a “homens”), entendo que é mesmo impossível confiar. Diante
de tantas barbaridades, quem pagaria pra ver? Eu também opto pela desconfiança
sempre.
Nesses casos, não sinto vergonha, visto que não se trata de
algo direcionado a mim, especificamente. Por esse mesmo motivo, também não me
ofendo se alguém tomar essas precauções quando a “suposta ameaça” sou eu. Há um
desconforto, sim, como acontece com todo pré-julgamento. Eu lamento que seja
assim, mas não sinto vergonha por isso.
Por outro lado, se o cenário for uma criança conhecida, com pais
conhecidos (por vezes familiares), ser considerado ameaça já desperta vergonha,
ainda que não tenha dado motivo para a desconfiança, como também foi no primeiro caso. Com
pessoas conhecidas, fica mais fácil se sentir ofendido, inclusive. Neste
segundo contexto, é possível confiar em homens cuidando das crianças. Tanto é
possível, que a maior parte dos casos de violência sexual envolve familiares.
Quando lembro disso, deixo de me sentir ofendido e dou razão
aos pais ou responsáveis: desconfiar sempre.
Já pra quem tem filhos, acho que se preocupam e pensam sobre
isso. Eu que tenho apenas afilhada e sobrinhas, tenho medo, imagina com
filhas/os. Entretanto, estão longe se serem otimistas; apenas assumem a
responsabilidade de gerenciamento do risco, muitas vezes tratando todos como
ameaças.