Senhor, obrigado pela seca que nos oferece. Seca que, assim
como a tempestade, foi desenhada pelo Criador e tem sua importância no
equilíbrio do mundo. Seca que ameaça, amedronta e arranca lágrimas do
nordestino.
Obrigado pela aflição que nos faz sentir. Ela é capaz de lembrar
o quanto ainda somos dependentes das variações do tempo e revela de forma ímpar
nossa incompetência em utilizar aquilo que a ciência já nos permite conhecer em
termos de previsões meteorológicas e preservação ambiental.
Obrigado pela
estiagem que faz o gado morrer de fome e de sede, sob o sol escaldante, numa
agonia sem precedentes, em decorrência do despreparo dos homens diante de um
evento climático anunciado. Obrigado por deixar vir à tona a hipocrisia humana,
que diz sentir pena ao ver na TV o bicho que morreu no pasto enquanto o seu
prato tem pedaços do mesmo tipo de bicho (mas este foi assassinado para saciar meros
caprichos do paladar).
Agradeço pela estiagem de hoje que, comparada à estiagem
passada, mostra que pouco se fez em favor do homem pobre que mora no campo,
deixando uma pergunta a ser respondida: será diferente na próxima estiagem?
Obrigado também pela chuva que inicia um outro ciclo natural,
enquanto os donos dos pastos fazem contas sobre como recuperar o dinheiro
perdido. Chuva que, sendo parte do Universo, já tem dia e hora para cessar,
embora não saibamos quando.
Chuva que emociona e devolve a esperança ao povo sofrido, que
ora a Deus em agradecimento. Na oração, o vento apaga facilmente a chama da
vela e o sertanejo relembra que, dependendo tanto da chuva, sua vida é tão
frágil quanto aquela chama.